sábado, 29 de outubro de 2016

Sociedade espetáculo

Das notas do celular:

"Chega a ser deprimente o comportamento humano, no microcosmo e no macrocosmo - afinal, o segundo é reflexo do primeiro. O superficialismo e a espetacularização das ações visando o amaciar do ego é extenuante, não só pra própria pessoa, quanto pra quem a cerca. Vivem de holofotes, de máscaras e de curtidas. O que são de verdade? O que querem de verdade? Querem ser capas de revistas, querem que os outros os vejam a todo custo. É engraçado analisar isso, não é? Parece até uma falta de reconhecimento próprio, uma vontade louca de aceitação do mundo pra uma aceitação interna e, arrisco dizer, uma falta de personalidade. Viver dos outros e, mais ainda, para os outros é não viver. É ser escravo da opinião alheia e de uma imagem construída a suas custas. É um suceder de reflexos do que já existe, uma competição desenfreada... O que dizer da autoanálise nesse contexto? Ela existe? E digo de novo, é muito deprimente..."

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

De um intimista

Estranho-me, reconheço-me. Quieta, meu eu se revela, desdobra-se em sua identidade bruta, real, aquela pela qual me vejo. Rodeada, perco-me na euforia. O meu eu recolhe-se, amedrontado, perdido. Sinto-me confusa: todos são vultos, palavras são signos perdidos. Aquele eu transfigura-se, sem lógica, sem reação. Estranho-me, estranho-me e não me reconheço. As teorias e reflexões de outrora são substituídas por palavras mal-pensadas. Algum dia alguém irá ouvi-las? Por que não consigo articulá-las?  Minhas paixões, constantes e sem alterações, demonstram-se num adorar elétrico, eufórico, irracional, abandonando toda complexidade que meu eu as submete quando só. Então classificam-me,  rotulam-me e odeio. Subestimam, superestimam e não acertam. Que retrato é esse que fizeram de mim? Quando sei, dizem que não sei; quando sou, dizem que não sou; quando digo que amo, dizem que não. Não  me conhecem e julgam superficialmente. E nesse paradoxo de ser e não ser, numa antítese entre interpretação e conteúdo, questiono meu eu frente a mim e o mundo. Por que tão complexo? Por que tão estranho? Por que tão eu?